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Ahmedabad, Índia, 22 de maio de 2017 - Os governos africanos têm de integrar mais plenamente o empreendedorismo nas suas estratégias de industrialização, de acordo com o relatório Perspectivas Económicas em África 2017 divulgado hoje na 52.ª Assembleia Anual do Grupo do Banco Africano de Desenvolvimento.
O crescimento económico de África abrandou de 3.4% em 2015 para 2,2% em 2016 devido aos baixos preços das matérias-primas, uma recuperação fraca da economia mundial e condições meteorológicas adversas, o que causou perdas na produção agrícola de algumas regiões. No entanto, espera-se que em 2017 e 2018 se verifique uma melhora, para 3,4% e 4,3%, respectivamente. O que presume que com a recuperação dos preços das matérias-primas, a economia mundial passará por um momento de recuperação e as reformas macroeconómicas nacionais serão consolidadas.
De facto, existem desenvolvimentos promissores em todo o continente. O crescimento de África baseia-se, cada vez mais, em fontes nacionais, conforme demonstrado pelo dinamismo do consumo privado e público que, combinados, representam 60% do crescimento em 2016. Este crescimento também coincide com progressos na área do desenvolvimento humano: 18 países africanos alcançaram níveis médios a elevados de desenvolvimento humano em 2015. Por último, o investimento direto estrangeiro, atraído pelos mercados emergentes e pela rápida urbanização do continente, atingiu USD 56.5 mil milhões em 2016 e espera-se que esse número chegue a USD 57 mil milhões em 2017. Este investimento afastou-se do setor dos recursos naturais e passou para a construção, os serviços, a indústria transformadora, os transportes, a eletricidade e as tecnologias de informação e comunicação.
“Contudo, adversidades económicas enfrentadas nos últimos dois anos parecem ter mudado a narrativa de uma África em ascensão. Acreditamos firmemente que o continente permanece resiliente, com as economias não dependentes dos recursos naturais sustentando taxas de crescimento mais altas e por um período mais longo. Com setores privados dinâmicos, um espírito empreendedor e vastos recursos, África tem o potencial de crescer de forma ainda mais rápida e inclusiva,” é o que afirma Abebe Shimeles, Diretor Interino do Departamento de Investigação sobre Desenvolvimento do Banco Africano de Desenvolvimento.
Porém, os progressos permanecem desiguais. Os governos africanos têm de orientar a sua agenda para a criação de emprego através de políticas mais ambiciosas e ajustadas. Não obstante uma década de progressos, 54% da população nos 46 países africanos ainda estão encurraladas nas múltiplas dimensões da pobreza - saúde, educação e padrões de vida. As exigências de oportunidades de melhor emprego são a principal razão subjacente aos protestos públicos constantes, tendo motivado um terço de todas as demonstrações públicas entre 2014 e 2016 - embora num contexto de menores níveis de instabilidade civil. É provável que o tamanho da mão-de-obra aumente para 910 milhões entre 2010 e 2050, pelo que a criação de mais e melhores empregos continuará a ser o principal desafio para os decisores políticos africanos.
“A chave do sucesso do desenvolvimento em África é nutrir a cultura emergente do empreendedorismo, para usar a famosas palavras de Hernando De Soto “el otro sendero” (o outro caminho) para o desenvolvimento, um caminho capaz de desencadear uma fortíssima criatividade e transformar oportunidades em realizações fenomenais”, afirmou Abdoulaye Mar Dieye, Diretor do Escritório Regional para África do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Para transformar o desafio de um crescimento populacional intenso numa oportunidade, é fundamental que a nova revolução industrial de África seja um sucesso. Atualmente, 26 países africanos têm uma estratégia de industrialização implementada. Contudo, a maioria destas estratégias tende a dar ênfase ao papel das grandes empresas da indústria transformadora em detrimento dos empreendedores em setores com potencial para um crescimento e criação de emprego elevados, incluindo empresas em início de atividade e pequenas e médias empresas. As empresas com menos de 20 empregados e uma experiência inferior a cinco anos fornecem a grande maioria dos empregos do setor formal em África. Além disso, o advento das tecnologias digitais e dos novos modelos de negócios está a atenuar as fronteiras entre a indústria transformadora – que está agora a retroceder para 11% do PIB de África - e os setores dos serviços. Consequentemente, as estratégias de industrialização têm de apoiar outros setores nos quais as economias africanas apresentam vantagens comparativas, tais como os agronegócios, serviços transacionáveis e energias renováveis. Novas estratégias têm de evitar a dependência de empresas que não respeitem o ambiente.
“As economias africanas não podem perder a sua próxima transformação produtiva. Os empreendedores devem ser intervenientes-chave no percurso de África para a quarta revolução industrial,” afirmou Mario Pezzini, Diretor do Centro de Desenvolvimento da OCDE e Conselheiro Especial para o Desenvolvimento do Secretário-Geral da OCDE.
De acordo com o relatório, África dispõe de um elevado potencial inexplorado para o empreendedorismo. Em 18 países africanos para os quais existem estatísticas, 11% da população em idade ativa constituiu as suas próprias empresas para explorar oportunidades específicas de negócio. Este nível é superior ao dos países em desenvolvimento na América Latina (8%) e na Ásia (5%). No entanto, poucos investem em setores de elevado crescimento, crescem de modo a empregar mais trabalhadores ou introduzem inovações nos mercados. Para transformar o seu dinamismo num motor de industrialização, os governos africanos podem melhorar as competências dos trabalhadores, melhorar a eficiência de clusters de empresas - tais como parques industriais e zonas económicas especiais - e aumentar o financiamento a pequenas e novas empresas, por meio de crédito mais acessível em termos económicos e instrumentos mais inovadores.
Sobre o relatório:
O relatório Perspetivas Económicas em África é elaborado anualmente pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAfD), pelo Centro de Desenvolvimento da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos (OCDE) e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Para mais informações sobre a 52.ª Assembleia Anual do Grupo do Banco Africano de Desenvolvimento, visite www.afdb.org/am. Hashtag oficial: #AfDBAM2017
Contactos:
- BAfD: Olivia Ndong Obiang, telef.: +225 01 56 05 05 (Abidjan/Ahmedabad)
- Centro de Desenvolvimento da OCDE: Bochra Kriout, telef.: +33(0) 1 45 24 82 96; telemóvel: +33 06 26 74 04 03 (Paris)
- PNUD: Lamine Bal, telef.: +1 212 906 5937 (Nova Iorque); Sandra Macharia, telef.: +260 975 28 04 99 (Addis Abeba)
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